2 de ago. de 2010

Tempo e Espaço



Céu cinzento de outono - Conquista, BA

Enquanto penso no começo deste post, estou ouvindo ao vivo a transmissão do encerramento do Festival de Campos do Jordão. A página em branco é sempre um dilema pra quem escreve... Seja escritor, seja... "escriba" rs.

Comecei pelo título porque estes dois conceitos - tempo e espaço - têm flutuado em minha cabeça desde que cheguei ao Sul da Bahia, na cidade de Vitória da Conquista (ou Conquista, como é conhecida aqui). Explico.

Sempre que ouvia algo sobre a Bahia, a referência era sempre a do recôncavo... Salvador, praia, batuque, água de coco e acarajé. Sim. Há acarajé na Bahia (não só no litoral!), há água de coco, dentre outras coisas. Mas a percepção de um lugar sempre muda com a convivência nesse lugar (ou deveria rsss).

No filme, "O céu que nos protege", de Bertolucci, apresentam-se através das personagens a figura do viajante e do turista. O turista como sendo aquele que chega com o seu tempo determinado: ele viaja para conhecer e nada mais. Vai e volta. Leva consigo pra onde quer que vá suas referências e não abre mão delas. Para ele, não há diálogo, há estranheza, há o exótico. Tão logo ele saia dali, descarta a maioria das coisas que viveu. Por outro lado, o viajante abre-se para novos conhecimentos, para a troca. Suas referências lhe pertencem e ele tem pátria. Ao mesmo tempo, ele não teme o desconhecido e o mergulho no "outro". Ele dialoga, troca, interage e mergulha.

Infelizmente, no meu período mais frutífero em viagens (infância), eu não dominava os conhecimentos que domino hoje. Mas... Uma grande vantagem eu levava: a disposição para aprender, trocar. A curiosidade pueril.

A essa altura, você deve estar se perguntando: "Mas onde entra o tempo e o espaço nisso tudo??". É simples: categorias, entidades (como queira chamar, não estudei a ponto de defini-las), o fato é que estou com sérias desconfianças de que esses dois conceitos são chaves para se compreender uma outra cultura. As atividades sociais, eventos culturais, o cotidiano e tantas outras coisas que poderia enumerar acontecem tomando por base o tempo e o espaço. Talvez isto fique mais evidente quando se sai de uma metrópole como Rio de Janeiro/ São Paulo e se chegue a uma cidade de, aproximadamente, 318.000 habitantes. Toda a sua referência muda. As distâncias já não são tão excludentes, o tempo aproxima, sair para vários lugares no mesmo dia é permitido e, pra mim, o mais curiosamente estranho: encontrar sempre alguém quando se põe o pé fora de casa.

A partir daí, desse outro "tempo" e "espaço", todas as outras coisas se configuram: lojas que fecham durante o almoço. Lojas que abrem só no período da tarde, empregada que falta porque a tia da cunhada do primo precisa de alguém pra olhar o cachorro que está doente. Em suma, é TODA uma estrutura que se desenvolve sobre estes dois pilares: TEMPO/ ESPAÇO. E, ao que tudo indica, compreendendo-se estas relações (de como esse tempo e espaço determinam uma dada comunidade), conseguimos compreender também um pouquinho melhor aquilo que pra nós é exótico e estranho no outro.

É isso. Esses dois conceitos dão muito pano pra manga... Mas tenho também o meu "tempo interno" rs. Esse não é do interior. Esse é o da metrópole e está, no momento, me lembrando que preciso agora me dedicar a outras coisas. Não antes sem deixar aqui um exemplo do que disse. Uma das coisas que desde o início mais chamou a minha atenção em Conquista: a distância da terra para o céu. Portanto, espaço.