26 de fev. de 2012

Nem te conto...

Ele, já em seus 86 anos, praticamente surdo. Sua audição funcionava a 30%. Ela, bem mais nova, 68 anos, bem disposta. Gostava de jogar cartas com as amigas nas noites de terça. A velhice não a impedia de acreditar na vida, de sonhar. Pensava ainda em visitar os castelos medievais na França, mas sua condição de professora aposentada não a tinha permitido sequer ir além de Buenos Aires.

Em uma tarde fresca de sábado, sentam-se os dois na pequena varanda do apartamento. Enquanto tomava seu chá de camomila, ela o contemplava:

- Nem te conto...
- O quê?
- Não te conto. Você vai saber.
- O quê??
- O quanto te amo.
- O quê??!

Ela o toma pelos braços e o leva a sentar-se ao piano, pedindo que ele tocasse o concerto que o fez ganhar o prêmio de melhor intérprete de Mozart no conservatório. Ele, com as mãos trêmulas pela idade, percorre o piano e, apesar da ótima condição auditiva da esposa, ele a faz extasiar-se com tão belos sons.

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